De acordo com estudo, além de vantagens no combate às pragas, uso do equipamento ainda traz benefícios como tirar o aplicador da lavoura, não causar amassamento das plantas, utilizar menos água
Foto: Vinícius Kuromoto
Cientistas da Embrapa Soja comprovaram o bom desempenho de drones agrícolas como veículos de pulverização no controle de duas importantes pragas da cultura da soja no Brasil: o percevejo-marrom e a lagarta-falsa-medideira (Rachiplusia nu). Os equipamentos foram testados na safra 2020/2021 em comparação a outros métodos, como tratores e borrifadores costais, para aplicação de produtos químicos e biológicos.
Iniciados em 2020, os testes e a avaliação de parâmetros técnicos para uso de drones estão sendo conduzidos agora visando o controle da ferrugem asiática. Os trabalhos são coordenados pelos pesquisadores Samuel Roggia, Rafael Soares e Fernando Adegas.
No caso do percevejo, a pesquisa mostrou que o uso de drones é capaz de atingir a praga em partes das plantas de soja que, normalmente, não são alcançadas pelos métodos tradicionais de pulverização, como o interior do dossel (estrutura aérea da planta).
“A combinação do espectro de gotas do pulverizador – ponta, pressão de trabalho e concentração de produtos na calda – e do efeito do movimento das hélices do drone (downwash) proporcionou maior penetração de inseticida no interior do dossel da soja, aumentando a eficiência de controle”, destaca Roggia.
Segundo a Embrapa, os ensaios indicaram que a pulverização com drone proporcionou melhor depósito do inseticida no estrato inferior das plantas de soja. Já nos estratos superior e médio da soja, o depósito foi equivalente aos demais tratamentos avaliados.
O estudo utilizou a mesma dose dos inseticidas por hectare em todos os tipos de pulverização e mostrou maior depósito de calda nas pulverizações tratorizadas (36 e 80 litros/ha) e costais (200 litros/ha) do que por drone (dez litros/ha). Roggia afirma que, para estimar o depósito de inseticida nas diferentes alturas da planta de soja, foi realizado um cálculo considerando as diferentes concentrações de inseticida na calda.
“Mesmo que a pulverização com drone proporcione menor depósito de produto na planta, quando comparada à aplicação tratorizada e costal, a calda é mais concentrada resultando na mesma quantidade de inseticida aplicada por hectare”, detalha o pesquisador.
Drone mostra eficiência no controle biológico de lagarta
Roggia estudou também as diferentes aplicações do inseticida biológico baculovirus no controle da lagarta-falsa-medideira, que não vem sendo controlada eficientemente pela soja Bt (modificada geneticamente com genes da bactéria Bacillus thuringiensis), devido à resistência do inseto. De acordo com o pesquisador, a aplicação de baculovirus exige condições ambientais específicas e estágio de desenvolvimento adequado das lagartas.
“Nesse contexto, a pulverização com drone representa uma vantagem operacional importante, porque permite realizar aplicações em situações em que há restrição para a sua realização com trator, por exemplo, logo após uma chuva, como solo muito úmido”, ressalta.
Roggia diz que no estudo foi realizada aplicação com volume de calda de cinco e dez litros por hectare (L/ha) com drone e em ambos a eficiência foi maior do que a aplicação costal, realizada com volume de calda de 75 L/ha. O estudo utilizou 50 g/ha do produto VIRControl C.i., produzido pela empresa Simbiose, a partir de uma cepa licenciada pela Embrapa.
Pulverização comparativa para controle da ferrugem da soja
Com o objetivo de avaliar a pulverização de fungicidas no controle da ferrugem asiática, o pesquisador Rafael Soares comparou também os diferentes métodos de aplicação: drone, tratorizado de arrasto e costal pressurizado por CO2 . No estudo foram realizadas duas pulverizações, com base no monitoramento do clima, ocorrência da doença na região e estágio de desenvolvimento da cultura (R2 e R5.1).
“As avaliações de severidade da ferrugem asiática mostraram não haver diferença significativa entre os tratamentos com pulverização. No entanto, os períodos de déficit de chuvas durante boa parte da safra na região não favoreceram a ocorrência severa da ferrugem-asiática, que incidiu sobre o ensaio e atingiu severidade de 26% nas parcelas sem aplicação de fungicida. Por isso, os ensaios estão sendo repetidos na safra 2021/2022”, conta Soares.
Benefícios da pulverização com drones
Para os pesquisadores, o drone é uma ferramenta promissora de pulverização e pode trazer benefícios imediatos, como tirar o aplicador de dentro da lavoura no momento da aplicação, principalmente o que usa o pulverizador costal; não causar amassamento da cultura; não depender das condições do solo para entrar na lavoura; utilizar menos água; não utilizar combustíveis fósseis; rapidez de aplicação em pequenas áreas; complementar a pulverização tratorizada e com o avião em áreas acidentadas, com obstáculos e em aplicação localizada, de acordo com mapas de aplicação, no contexto de agricultura de precisão.
A conclusão do estudo é que, embora a pulverização com drone venha se tornando usual, ainda necessita de informações técnicas e agronômicas para melhorar sua eficiência. “O objetivo é obter melhorias em gargalos como a autonomia das baterias, o custo dos equipamentos e da operação de pulverização”, afirma Soares.
Melhoria na tecnologia de aplicação de produtos
A evolução tecnológica, em especial a agricultura de precisão, vem proporcionando a adoção de novas ferramentas para o processo de pulverização, visando maior eficácia e rapidez, com menor custo e mitigação de riscos de contaminação ambiental e humana. Os pesquisadores reforçam que a pulverização de produtos fitossanitários é uma ferramenta importante para o manejo de plantas daninhas, doenças e insetos que atacam a parte aérea da soja.
No caso das doenças, a pesquisa foi focada na ferrugem asiática, maior problema fitossanitário da cultura. Em se tratando de pragas, os ensaios foram direcionados ao controle do percevejo-marrom, principal inseto-praga da soja e à lagarta-falsa-medideira, que, apesar de esporádica, é uma importante desfolhadora.
“O percevejo apresenta elevado potencial de dano, por atacar diretamente as estruturas reprodutivas, podendo ocasionar abortamento ou má formação de vagens e grãos, redução da massa e qualidade de grãos e sementes colhidas, além de retenção foliar e perdas durante o armazenamento da produção”, diz Roggia.
Os pesquisadores afirmam que a eficiência da tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários é definida pelo emprego de conhecimentos científicos e técnicos que proporcionam a correta colocação do produto biologicamente ativo no alvo de interesse. “Esse processo deve envolver, preferivelmente, somente as quantidades necessárias de produto, de forma econômica e apresentar o mínimo de deriva para evitar atingir outras áreas localizadas na vizinhança do alvo planejado”, de acordo com Soares.
Nesse sentido, foram avaliados, diferentes aspectos da tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários, que podem impactar o processo de pulverização como diferentes vazões, pontas de pulverização, deposição e distribuição de gotas.
Fonte: Canal Rural