Em cinco anos, a área de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) cresceu mais de 50% em Mato Grosso do Sul, de acordo com a Rede ILPF. No último levantamento feito pela entidade, Mato Grosso do Sul ficou em primeiro lugar no ranking nacional entre os estados com maior quantidade de áreas integradas.
A área destinada aos sistemas no Estado passou de 2.085.518 na safra 2015/2016 para 3.169.987 no levantamento referente à safra 2020/2021, crescimento de 51,99%.
A vocação agropecuária de Mato Grosso do Sul é evidente historicamente desde a chegada dos primeiros moradores ao Estado. Apesar de sermos uma potência nacional atualmente, sem a tecnologia de produção desenvolvida aqui e empregada no Cerrado e no Pantanal pouco avançaríamos em termos de produtividade.
Além de variedades de cultivares adaptadas para os dois biomas, um dos formatos de produção trouxe mudanças para o cenário estadual. A integração lavoura-pecuária (ILP) mudou a forma de produzir, mas o sistema rotativo deu um passo além com a adição da cultura de florestas às áreas pouco produtivas ou degradadas por repetidas safras, criando a ILPF.
MS tinha, à época do levantamento, 16,25% da área destinada à produção agropecuária total que fazia parte de sistemas de ILP ou ILPF. Dos 19.504.048 hectares cultivados para a atividade na safra 2020/2021, 3.169.987 hectares utilizavam as técnicas indicadas.
Segundo o diretor da empresa Regrow, Renato Rodrigues, atualmente é possível estimar que esse dado seja ainda maior. O biólogo falou em evento especializado sobre o tema na sede do Sindicato Rural de Campo Grande, Corguinho e Rochedo (SRCG).
“MS tem 15 milhões de hectares de pastagem degradáveis, em torno de 72% disso tem algum nível de degradação, então, são 11 milhões de hectares com algum nível de degradação. Isso é uma baita oportunidade”, resume.
Rodrigues afirma que, atualmente, Mato Grosso do Sul já tem cerca de 3,8 milhões de hectares de ILP e ILPF. “A indústria florestal agrega o componente florestal à integração lavoura pecuária e aumenta o potencial de geração de renda para o produtor. Não tem como falar em sustentabilidade sem falar em economia”, classifica.
Segundo o gerente técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Sistema Famasul), José Pádua, a utilização desses sistemas representa o compromisso de produtores rurais com a sustentabilidade.
“A integração lavoura-pecuária-floresta é uma combinação de diferentes culturas, que traz benefícios à agropecuária e ao proprietário rural, e, além de diversificar as fontes de receita, também segue as diretrizes ESG, que fortalecem a sustentabilidade do negócio”, destaca.
APOIO
Conforme o gerente de negócios florestais da Suzano no Estado, Miguel Caldini, a empresa vê também com bons olhos a adoção do ILPF pelos produtores rurais.
“Principalmente falando aqui de Mato Grosso do Sul, isso contribuiu para esse processo de captura de carbono. Eu cuido dessa parte de negócios florestais e rodo muito o Estado, vou a muitas fazendas e vejo um grande potencial em fazer alguma coisa nesse sentido”, comenta.
Caldini diz que se tudo for bem inserido no processo, acoplado à tecnologia, para a Suzano a integração é uma fonte viável de negócio.
“Nós trabalhamos com arrendamento das unidades, logicamente que algumas arrendamos totalmente, e outras propriedades o proprietário quer se manter no negócio e quer ficar no lugar, até por uma questão de tradição, e tentar manter dentro da família. Então, o ILPF ainda pode ser uma das ferramentas que a gente pode usar nesse modelo”, explica.
Segundo relatório anual da Indústria Brasileira de Árvores (IbÁ), MS saltou de uma área plantada de floresta para uso industrial de 307.760 hectares em 2009 para 1,141 milhão de hectares em 2020.
Segundo o presidente do SRCG, Alessandro Coelho, a pecuária sul-mato-grossense encolheu porque há formas de diversificação de produção no campo para atender o produtor. “O futuro da produção é esse sistema integrado, até por isso a área da pecuária caiu no Estado”, comenta.
O presidente da Associação de Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), André Dobashi, diz que algumas regiões sofreram transformações drásticas com o passar do tempo.
“Vale destacar que era só pecuária em Maracaju. Hoje, nós temos 340 mil hectares de soja lá dentro”, afirma.
Dobashi credita essa diversificação à adoção de técnicas de integração, que trouxe o capim braquiária para o Estado, e criou a possibilidade de colocar uma pastagem de qualidade em sucessão à cultura da soja.
“Com isso, veio a conservação de solo e água, que depois, integrando isso com o milho, possibilitou Maracaju de duas safras, quase três, com uma pastagem de inverno”.
O resultado, de acordo com o secretário de Meio Ambiente, Produção, Desenvolvimento Econômico e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, é decorrente da política estratégica de desenvolvimento sustentável implementada pelo governo para tornar Mato Grosso do Sul um estado carbono neutro até 2030.
“O investimento em pesquisa e inovação tem permitido a intensificação da pecuária, com a adoção de boas práticas de produção e novas tecnologias”. (Colaborou Súzan Benites)
Com informações: Correio do Estado