Criar rebanho é ser agricultor de pasto. Esta foi a definição dada pelo professor e pesquisador da Universidade Federal de Viçosa, UFV, Luis Cesar Dias Drummond, ao se referir a quem se dedica a atividade da pecuária de corte ou leite. O professor é estudioso da produção de carne ou leite a pasto irrigado, desde 1992, e possui um vasto material publicado sobre o tema. Conforme diz, é a “forma mais garantida de aumentar a produtividade por hectare via aumento da capacidade de ter mais unidade animal nos piquetes”. Drummond afirma que instalar irrigação na pastagem não é um luxo, mas uma decisão para quem quer otimizar sua área de pastagem, aumentando sua produtividade.
Segundo conta, quando iniciou a pesquisa os estudos anteriores falavam que era possível conseguir colocar 6 UA/ha, mas já nos primeiros anos do seu trabalho chegou a 8 UA /ha. Aperfeiçoando o processo, em 2003, evoluiu para 13 UA/ha. “Na época fizemos a pesquisa em 30 hectares com aspersão automatizada e com o objetivo de produzir pasto de qualidade – mais ou menos 45 toneladas de massa seca/hectare ano e proteína bruta entre 16 a 22%”, relata Drummond. Para uma ponta fechar com a outra a pesquisa buscou também saber qual o melhor pasto para uso na tecnologia de irrigação. “Quando o clima é quente, o panicum é uma boa opção. Mas sempre é bom pensar no tifton que serve tanto no pastejo quanto prá fenação”, afirma. Ele complementa dizendo que o foco deve estar em melhoria da pastagem tanto na qualidade quando em produtividade, para ter densidade que reverterá em produtividade e produção de mais quilos de carne/há/ano.
Mas a receita para o sucesso, conforme diz Drummond, é planejamento. Nada muito complicado, mas a implantação de pastagem irrigada requer uma análise geral da fazenda para ver qual ou quais piquetes são os mais adequados, qual a distância que eles estão da fonte de água, de energia, qualidade do solo, e, como consequência, a distribuição destes piquetes para que haja uma rotação do rebanho dentro deles, com o objetivo de tornar mais eficiente e produtivo o pastejo.
Imagem do projeto de irrigação subterrânea (fonte Poral DBO)
“Não é só comprar um kit de irrigação e implantar. O diferencial está justamente em fazer este plano de uso da irrigação para que ele propicie lá na frente, o resultado esperado e não resulte em frustração do pecuarista e o abandono da técnica que, além de eficiente, é altamente produtiva e lucrativa”, finaliza o pesquisador.
Na prática
A fazenda Santo Antônio tem 200 hectares e fica no município da Andaraí, na Chapada Diamantina, Bahia. Foi adquirida já pensando na produção de carne de qualidade porque o irmão de Emanuel Paes Cardoso, tem um abatedouro. Maneca, como é conhecido, é empresário em Salvador, e usou sua experiência em planejamento para implantar a pastagem irrigada na fazenda. Segundo ele, o começo foi com 50 hectares divididos em 20 piquetes com 2,5 cabeças em cada um. A irrigação é por gotejamento e está toda enterrada, assim ele aproveita para fazer fertirrigação e controles de doenças que possam atacar a pastagem. Desde o princípio o objetivo dele era claro. Pastejo rotativo com área de descanso e trabalhar somente com semiconfinamento a pasto. “Só mais pro final é que entra um complemento de ração” explica.
De acordo com o empresário e pecuarista o plano é chegar com a irrigação nos 200 hectares. A Santo Antônio está numa região onde o solo é muito bom e tem bastante água. Por ano chove cerca de 700 mm. Para ele a vantagem da irrigação por gotejamento é a economia de água e de energia, precisa de uma bomba com pequena potência, e poder fazer todo o controle a distância. “De onde eu estou, no meu celular eu determino a hora e quanto irrigar, isto me dá mais poder de gestão do processo”, salienta. Maneca diz que outro fator positivo, com a microirrigação é que depois de implantada e usando fertirrigação, o trator não precisa mais ser usado na área, resultando e mais economia ainda.
Para o projeto ficar redondo ele definiu usar o cruzamento de nelore com Angus onde a F1 ganha maior vigor híbrido e os índices de produtividade aparecem mais rápido. “Se eu pegar um animal com 7 arrobas, neste sistema de pastagem irrigada eu vou ganhar 1 arroba por mês e em 12 meses eu chego a pelo menos 19 arrobas. Para fazer isto só no pasto eu precisaria de 800 hectares”, declara ele. Maneca disse que optou por este cruzamento porque permite maior velocidade de ganho de peso e uma carne de maior qualidade, com isto ganha mais dinheiro pela arroba. Ele finalizou dizendo que dentro do plano a implantação da irrigação deve se pagar em no máximo dois anos e meio. “É muito vantajoso”, define.
Irrigar o pasto é “construir uma fábrica a céu aberto, de proteína animal a partir da proteína vegetal”. Com este conceito, Guilherme Souza, diretor geral da Rivulis Irrigation, empresa especializada em microirrigação, explica qual a vantagem do uso da técnica de pastagem irrigada. Conforme ele é um sistema que serve para qualquer pastagem e fornece grama com um percentual de 20 a 24% de proteína bruta. “É um investimento que se feito bem planejado tem retorno garantido” assinala Souza, ressaltando que é importante para o uso desta tecnologia ter uma visão do todo. “Não é só mais uma técnica de irrigação, mas sim um projeto de produção de mais quilos de carne por hectare ano, com aumento de intensificação da área, ou seja, produtividade, por conta de que a irrigação vai permitir produzir mais pasto em menor tempo, então, não é só uma visão agronômica, tem que se somar com a zootécnica também para obter o resultado planejado”, finaliza Souza.
fonte: Portal DBO